O meu galho é na Bahia…
É som de preto
De favelado
Mas quando toca ninguém fica parado
Nascido e criado na Bahia, Estado cuja capital é a maior cidade negra fora da África, nunca havia sentido tanto orgulho das minhas origens como nos últimos dias. Talvez seja resultado da distância do berço e a reflexão apurada por conhecer outras visões de mundo, com discrepâncias bem grandes em relação a tudo que havia tido contato anteriormente. Para quem não sabe, apesar de branquinho (amarelo) e de olhos meio claros, como todo brasileiro tenho um pé na senzala. Sou bisneto de escrava alforriada pela Lei do Ventre Livre e, apesar de contestações dentro da minha própria família, tenho orgulho de ter sangre negro correndo em minhas veias. Muito provavelmente este discurso pareça infundado agora, mas devo contextualizá-los agora.
Sexta-feira passada, perguntei a alguns americanos que conhecia se havia algum lugar para dançar em Moscow. A cidade de menos de 23 mil habitantes, por sua inclinação universitária, muito provavelmente contaria com uma danceteria ou coisa do tipo para diversão jovem. Isso não necessariamente queria dizer que estava querendo dançar, mas aceitei o convite para conhecer o local. Antes, o velho esquenta, assim como no Brasil, num lugar mais calmo, onde poderíamos beber cerveja e conversar – no caso ainda uma via de mão única, pois não consigo conversar facilmente com pessoas jovens devido a velocidade da sua fala. O local escolhido, The Champions, é um típico bar com mais de 10 televisões, todas ligadas em canais de esporte e com alguns jovens americanos bebendo muito. Pois foi nesse lugar que comecei a perceber que o preconceito é algo que salta muito facilmente em terras americanas – não generalizando, lógico.
Um dos meus amigos, ao ser questionado sobre o local que iríamos em seguida, respondeu prontamente: “CJs”. A resposta da companheira da conversa, entretanto, foi além do que esperava ouvir: “Você realmente vai pra aquele lugar de música de negro?”. Para falar pouco, fiquei surpreso. Existiam na roda pessoas desconhecidas e que facilmente se ofenderiam com a afirmação. Eu, por exemplo, se tivesse firmeza no inglês facilmente rebateria o questionamento preconceituoso. Mas, aparentemente, ninguém estava a fim de discordar e dar asa ao comentário. Assim como a pergunta da garota, outras pessoas questionaram se nós realmente iríamos para o CJs, ouvir música de negros.
Na mesma hora, lembrei do vídeo que circulou na internet do cantor da banda baiana Psirico, durante o carnaval, rebatendo os comentários preconceituosos de um espectador dentro de um famoso camarote. Se aqui ele estivesse, provavelmente o processo seria, no mínimo, uma coisa pequena diante das expressões e dos comentários que viriam a seguir.
Mas, assim como existem criaturas carregadas deste sentimento idiota chamado racismo, existem pessoas que não prestam atenção à cor da pele antes de criticar. Fomos então ao CJs e lá, como era de se esperar, encontramos algumas dezenas de universitários, todos curtindo a vibe de músicas tipicamente americanas, com grande influência do rap, mas com um dedinho de techno. A única música conhecida, entretanto, foi Time of my life com Black Eyed Pies e fiquei curtindo o que seria uma danceteria nos EUA.
Juro que não havia como não imaginar como um forrozinho cairia bem. Ou até mesmo um axé, com as pessoas freneticamente gritando músicas sem grandes poemas nas letras. Ao invés disso, o que vi foram casais praticamente copulando em público e deixando qualquer baile funk muito pra trás em questão de promiscuidade. As garotos e garotas – alguns que acabavam de se conhecer – dançavam de maneira tão obscena que uma das garotas que estava no grupo, extremamente religiosa, preferia virar o rosto. Se os estrangeiros tem a visão que no Brasil o que se tem é carnaval, samba e sexo, a minha impressão numa discoteca aqui foi que eles não tem carnaval, não tem samba, mas sexo eles quase fazem em público…
Apesar de não gostar tanto do CJs e da seleção de músicas do DJ, definitivamente, tenho orgulho em dizer: cada macaco no seu galho/ xô xuá/ eu não me canso de falar/ xô xuá/ o meu galho é na Bahia/ xô xuá/ o seu é em outro lugar!
Comments
7 Responses to “O meu galho é na Bahia…”Trackbacks
Check out what others are saying...-
[…] também: O meu galho é na Bahia… respingosFacebookTwitterEmailGostar disso:GostoSeja o primeiro a gostar disso […]
Era de se esperar atitudes como esta nos E.U.A.
Eles “pensam” – e apenas isso – que por serem a potencial mundial – por enquanto – , são diferentes. E nós (não generalizando), com esse sentimento de sempre estarmos abaixo de qualquer outro, pensamos que racismo só existe aqui, embora vejamos isso na Europa agora com frequencia – que diga neymar -.
Importante é perceber que cada um em seu galho, sem deixar abalar pelas adversidades em querer vencer, mesmo que para isso tenha que perceber que além de conhecimento e cultura, levara consigo também uma dose de conhecimento indesejavél de determinados lugares.
Ah, se vc tivesse levado uns colares do ghandi…
Um abraço e estamos aguardando o seu retorno.
Boa Máquina! Com uns colares do Ghandi Fernandinho faria história! Outros comentários falo com você depois.
Passei aqui pra deixar um abraço.
Não é de se admirar visto que até algumas décadas eles separavam os ônibus em duas partes, uma para os “colored”…. Deprimente isso, principalmente quando eles fingem se orgulhar dos atletas negros recordistas olímpicos e astros do esporte… Só quando é conveniente…
rapaz… que complicado isso viu.. cara.. é aquela coisa né.. cada macaco no seu galho.. mas esperai vei.. século 21 e as pessoa ainda tem esse tipo de pensamento.. fala serio.. “nós” admiramos tanto outros países, que as vezes ficamos tapado com a realidade.. foi bom vc “FD” viver isso para mostrar o tamanho da ignorância que ainda há no mundo… concerteza se eu falasse fluentemente inglês e estivesse com vc nesse bar, concerteza teria discutido com eles no mínimo depois teria processados, pois isso é uma vergonha… cara, eu sou negro, o que será que eles falariam de mim?
Nando
Ai consiste a grande riqueza do aprendizado. Quanto mais de conhece mais se forma o carater e a noção daquilo que somos e queremos ser, de mais aproveite. hehehe, no bom sentido. Ou no mal vc que diz.