No parlo americano
Passado o momento estressante, finalmente consigo detalhar um episódio que acabou com minha paciência no meio da aula de Reading and Composition. Inicialmente devo comentar que o método desenvolvido pela Acbeu – Associação Cultural Brasil – Estados Unidos -, escola que tive o prazer de estudar, é algumas vezes melhor que método utilizado pela University of Idaho. Não estou falando que a qualidade daqui é ruim, até porque pelo número de alunos que participam das classes é possível ver que há qualidade e algum tipo de expertise no desenvolvimento do programa. O problema é que, para um aluno com formação razoável no idioma, em alguns momentos a aula parece um pouco patética. Conversando com uma colega equatoriana, que está aqui há mais tempo que eu, ela afirmou que era a maneira que eles encontraram para atender os asiáticos num formato mais próximo do que eles possuem em seus próprios países. Como toda minoria, não posso questionar completamente o sistema, mas posso ao menos falar que há um certo incômodo com a metodologia, principalmente para essa disciplina. As outras não tenho muito o que falar.
E foi justamente em Reading e Composition que aconteceu a fatídica discussão que indiretamente envolveu cultura e hábitos dos norte-americanos. Cada sessão do American Language and Culture Program da University of Idaho possui um tema escolhido pela coordenação pedagógica e professores. O da atual sessão, Sping II, propõe discutir a situação do sistema de saúde pública americano, que ocupa alguns espaços nos noticiários desde a campanha presidencial de 2008. Caótico e complexo por excelência, há uma disputa acirrada entre lobistas e políticos ligados ao Partido Republicano contra a universalização da saúde, com garantia de acesso a todos os americanos, proposta pelo lado Democrata. Entre o material didático do programa, todos os alunos terão que ler o livro The Healing of America: A global quest for better, cheaper, and fairer health care, em que o jornalista T. R. Reid discute e compara o sistema americano com outros como França, Alemanha, Grã-Bretanha e Japão, entre outros. A primeira surpresa foi quando perguntei se poderia classificar o livro como New Journalism e fui surpreendido pela professora afirmando não conhecer essa expressão – o “novo jornalismo” foi uma criação/ adaptação feita por jornalistas americanos e que se tornou um modelo de escrita de livros (num resumo simplório). Essa pergunta foi ainda na primeira aula e nem levei tanto a sério. O problema foi quando começamos a discutir as características do modelo americano de saúde pública.
Perguntei se era verdade a afirmação de que grande parte dos americanos era contra a universalização da saúde básica à professora e, enquanto ela tentava argumentar sobre a opinião dela, foi interrompida por sua assistente que iniciou comentando: “os americanos são muito ocupados para saber sobre o sistema de saúde pública”. Ok. Fazem um capítulo do handbook dedicado a tomar cuidado com as afirmações e, de repente, ouço que todos aqueles que conhecem um pouco sobre o sistema de saúde dos EUA são desocupados. Perguntei mais uma vez, pois podia ter entendido errado. E eis que a confirmação veio: “os americanos são muito ocupados para se preocupar com esse tipo de assunto”.
Foi a hora que saí do sério. Se existe um discurso para respeito a cultura e aos costumes alheios e uma das “propositoras” do discurso solta uma afirmação de que nós somos desocupados por termos um pouco de noção do quanto caótico é o sistema deles, então acho que há uma falha entre o que se fala e o que se faz. “Faça o que eu falo, mas não faço o que eu faço” deve ser bem comum por aqui. Acredito nisso depois de ter sido chamado de desocupado depois que uma integrante do corpo docente ter falado isso. A noção de mundo que transita ao redor deles é restrita aos EUA. Bom para nós, que somos desocupados o suficiente para saber que existe vida inteligente aqui, mas que também há vida muito inteligente fora da “América” como muitos fazem questão de colocar. No parlo americano para aprender que o mundo é o meu umbigo. Que bom que nasci no Brasil!
PS: Esse episódio aconteceu na segunda passada. Hoje, fui surpreendido ainda mais pela assistente da professora. “I’m a Job’s Daughter”. Durma com um barulho desses…
Taí uma coisa que eu queria ver…. Você estressadinho falando em inglês… rssss!
Não é mesmo novidade para nós que os americanos não sabem nada de geografia e história fora dos seus limites demográficos… um pena para eles!
Fernandinho, se Edmilson Segundo tivesse na hora que a professora disse isso ele falaria: Respeita a patente! O Cabra é Grande Mestre!
Abraços
Rapaz, que propaganda eh essa do ACBEU.
Ta recebendo incentivo de Fabio Augusto, eh?
Vc ta fazendo falta la na maçonaria. To sem ter quem sacanear pq nosso “primo” Hugo Santiago ate deixa comentario, mas n vai p loja (rsrs)
abraço