Prefeitura e Setps discordam sobre propriedade de linhas de ônibus
Enquanto prepara a licitação para a concessão do sistema de transporte urbano, a prefeitura de Salvador segue com estudos preliminares antes de avançar e, ontem, durante um evento para discutir a mobilidade urbana na capital baiana, mostrou que há discordância entre o secretário de Urbanismo e Transportes, José Carlos Aleluia, e o Setps, que representa os empresários do setor. De acordo com Aleluia, “cada empresa era proprietária de uma linha e tratava a comunidade como bem lhe interessava”, posição diametralmente oposto ao superintendente do sindicato das empresas de ônibus, Horácio Brasil.
“As linhas não foram feitas para atender as pessoas, as linhas foram feitas para atender pedidos e o traçado foi feito para que se catasse passageiros”, argumenta o titular de Urbanismo e Transportes da prefeitura. Evitando polêmicas, Horácio Brasil rebateu a crítica de Aleluia apontando existir “uma legislação ainda do tempo do prefeito Manoel Castro” em que “as linhas são da prefeitura e os empresários as operam através de ordem de serviço”. “Isso (a propriedade das linhas por parte dos empresários) é uma deturpação, decorrente de uma falta de informação”, classificou o superintendente do Setps.
Brasil, todavia, admitiu que a cidade não evoluiu na discussão sobre o sistema de transporte público. “A cidade está fazendo essa discussão há vários anos e até agora não aconteceu nada. Vamos ver se a gente consegue sair dessa nossa inércia. Salvador deu uma parada em relação as demais cidades brasileiras, onde se discutiu bastante e não se fez nada. Vamos ver se agora toma uma decisão”, provocou o representante dos empresários. Indiretamente, porém, Brasil sinalizou que é importante uma relação harmônica entre o poder público, o empresariado e a população. “Se essa relação for boa, a cidade vai bem. Se ela for ruim, vai de mal a pior”, sugeriu.
Aparentemente sem grandes entraves, a relação entre a prefeitura e o Setps não transparece desgastes mais sérios, segundo as falas de ambos os lados. “A cidade só tem que ganhar, principalmente quando você tem uma administração que sabe o que quer. Isso para mim é imprescindível. Agora a motivação política, a vontade política do dirigente é que definitivo”, salientou Brasil. Já Aleluia, sugeriu que haverá mudanças nessa relação. “Nós recuperamos o poder concedente, a prefeitura, na gestão do prefeito ACM Neto, vai assumir completamente o ordenamento, o controle e a gestão da operação do sistema de transporte de Salvador. Eu tenho deixado claro para os empresários que eles vão ter que mudar, porque quem não mudar vai ser mudado”, assegurou o secretário.
Secretário antecipa detalhes da licitação
Prevista para ser divulgada em setembro – depois de alguns adiamentos conforme discursos do próprio secretário de Urbanismo e Transportes, José Carlos Aleluia -, a licitação do sistema de transporte rodoviário urbano de Salvador terá como novidade a remodelação de todas as linhas atualmente disponibilizadas para a população. De acordo com Aleluia, o novo modelo melhorará a prestação dos serviços, além de otimizar a mobilidade urbana na capital baiana.
“Nós destruímos as linhas, consideramos que todas as linhas têm que ser remontadas e nós vamos fazer um sistema novo, e terá que ser equipamentos também novos. Esse sistema está estruturado para ter linhas estruturantes, linhas alimentadoras, cada uma com uma determinada tipo de equipamento. Nós não aceitamos que o serviço continue com a qualidade que está. Acho que hoje está melhor do que estava em janeiro, mas ainda é pouco, nós queremos mais, o prefeito quer mais”, antecipou o titular da pasta que coordena a elaboração do edital. Segundo ele, o prefeito elencou uma série de prioridades que serão consideradas durante o processo.
“A prioridade não é receber dinheiro. A prioridade é receber novos serviços, novos equipamentos. Ônibus tem que ter prioridade na cidade. Essa é uma realidade que vai mudar em Salvador. Se nós não fizermos isso, vai ficar todo mundo parado. Quem nunca andou de ônibus vai ter que aprender a andar de ônibus, porque não tem um caminho mais rápido de andar nessa cidade, não terá um caminho mais rápido nessa cidade que não seja andar de ônibus”, sugeriu Aleluia.
*Matéria publicada de Fernando Duarte e Osvaldo Lyra, publicada originalmente na Tribuna da Bahia de 29 de agosto de 2013