Vereadores retomam os trabalhos após duas semanas de ocupação da Câmara
Duas semanas após o início da ocupação do Plenário Cosme de Farias, a Câmara de Salvador retomou aos trabalhos ontem, com a presença dos manifestantes que justificam a negociação das reivindicações do Movimento Passe Livre (MPL) com a prefeitura para permanecer na Casa. O recomeço aconteceu depois de um entendimento entre vereadores da base do governo e da oposição, ainda no período da manhã, durante reunião do colégio de líderes.
Durante a sessão, no entanto, pouca produção efetiva. Apenas o tradicional pinga-fogo entre os vereadores e a apresentação do parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Redação Final sobre o veto do prefeito à cobrança do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) de incorporações imobiliárias – aprovado sem discussão. Da tribuna, enquanto vereadores da oposição defendiam a MPL, edis integrantes da bancada de governo se alternavam entre acompanhar a sessão e articular a votação do veto ao ISS, a autorização para empréstimo de R$ 50 milhões para infraestrutura asfáltica e, no bojo, o segundo turno do voto aberto para contas de prefeitos.
Para o presidente do Legislativo, Paulo Câmara (PSDB), o retorno às atividades mostra o avanço no trato com os manifestantes. Ele, porém, mostra preocupação com o processo de ocupação, que se arrasta há 15 dias. “Há um desgaste muito grande”, admite o dirigente. Câmara, todavia, reitera a posição de manter as conversas com o MPL. “As negociações continuam”, sinaliza o presidente, que integra o grupo de vereadores responsáveis por intermediar a relação do movimento e o Executivo municipal.
Gilmar Santiago (PT), líder da oposição na Câmara propôs que a Casa, juntamente com a bancada do governo, possa ampliar o diálogo junto ao Executivo para que o prefeito de Salvador receba uma comissão do grupo do MPL, antes da realização da audiência já marcada pelo movimento com o governo do estado para a próxima quinta-feira (8).
Os vereadores destacaram ainda o posicionamento da Mesa Diretora que possui a perspectiva de estreitar o canal de comunicação entre o governo estadual, a prefeitura e integrantes do MPL. Os manifestantes exibiam cartazes e gritavam frases ligadas ao movimento como “em São Paulo já caiu e em Salvador a tarifa também vai cair”.
Movimento é pouco flexível
Enquanto da tribuna os vereadores da oposição bradavam em defesa do Movimento Passe Livre (MPL), nos bastidores, os próprios oposicionistas concordavam com a preocupação apresentada pelo presidente Paulo Câmara (PSDB).
De acordo com um integrante da bancada da minoria, “o movimento tem que saber a hora de entrar e também a hora de sair”. “A Câmara negociou o reinício das sessões, o prefeito sinalizou que receberia uma comissão do movimento. É chegada a hora de sair e avançar nas negociações”, avalia uma fonte, em reservado.
Com a exposição aos humores dos manifestantes, diversos vereadores reclamam da pouca flexibilidade do MPL em aceitar negociar. “Eles querem que o prefeito venha até a Câmara. Eu conversei, expliquei que o prefeito os receberia, e qual foi a resposta? Só saímos da Câmara se o prefeito vier”, aponta um governista, também pedindo para não ser identificado. Apesar da ocupação, entretanto, o Legislativo parece disposto a retomar as atividades regulares.
“Vamos conversar, mas a perspectiva é colocar para votar o veto e o empréstimo ainda esta semana”, sinaliza o líder do governo, Joceval Rodrigues (PPS). Ao longe, o vereador Toinho Carolino, líder do PTN, lembra de outra matéria, o segundo turno do voto aberto. Por enquanto, ainda não está confirmada a votação hoje, porém a apreciação dos projetos deve acontecer no máximo amanhã.
*Publicada originalmente na Tribuna da Bahia de 06 de agosto de 2013