Mandato tampão pode equacionar situação de Nilo em 2014
Num tabuleiro de xadrez com muitos peões à disposição, algumas jogadas podem ser cruciais para um xeque-mate. Talvez seja essa uma das estratégias do governador Jaques Wagner para as eleições de 2014. Com nomes do PT, do PSD, do PSB, do PDT e do PP postos para apenas três vagas na chapa majoritária das eleições, a ida de Wagner para uma disputa para a Câmara Federal significa mais de um movimento. Pode ser a realização do sonho do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo (PDT), a ascensão para o Palácio de Ondina.
A lógica não é nova. Aconteceu à época em que o ex-prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PSDB), assumiu o governo do estado para um mandato tampão, de menos de um ano. “Quando o governador e o vice-governador se declaram impedidos, é realizada uma eleição indireta na Assembleia Legislativa. Foi assim quando Imbassahy assumiu o governo”, relembra o advogado eleitoral Ademir Ismerim. Hoje tucano, o ex-governador assumiu a função em 1994 após o afastamento de Antonio Carlos Magalhães para se candidatar ao Senado e do vice-governador, Paulo Souto, que buscava ter um mandato completo como governador – a reeleição passou a ser permitida apenas a partir de 1998.
Wagner, ao indicar a postulação de deputado federal, abriu mais de uma frente, além de ampliar a votação para o parlamento federal, o que deve ampliar a bancada do PT e dos aliados. Caso se confirme a expectativa, o vice-governador, Otto Alencar (PSD), o sucederia no Palácio de Ondina. E eis que, mais uma vez, a legislação eleitoral permite uma brecha que pode beneficiar a hipótese de eleição indireta. Alencar até o momento se apresenta como pré-candidato a senador e, como se trata da migração do Executivo para o Legislativo, há o impedimento de permanência no cargo. Ou seja, além de Wagner, o próprio vice-governador seria obrigado a renunciar para concorrer ao Senado. Havendo a vacância do cargo de chefe do Executivo, uma nova eleição deve ser realizada pela Assembleia, segundo Ismerim.
Esse pleito indireto não necessariamente significa a ascensão automática do presidente da Alba para ser governador. “Qualquer pessoa, inclusive eu, poderia se candidatar”, brinca o advogado eleitoral. Porém, alçado a quatro eleições consecutivas como presidente do legislativo baiano, o deputado Marcelo Nilo aparece à frente de outros eventuais postulantes. O parlamentar, que há tempos manifesta em público seu sonho de criança em ser governador, pode ver a concretização dele, ainda que por um curto período espaço de tempo. E, de quebra, o governador Jaques Wagner deixa uma vaga livre para a chapa majoritária de 2014. O único entretanto para Nilo, todavia, é apenas um: uma vez eleito indiretamente governador, ele pode tentar a reeleição ou ficar sem mandato pelos quatro anos seguintes à chegada dele ao Palácio de Ondina.
*Publicada originalmente na Tribuna da Bahia de 08 de julho de 2013