Wagner adia secretariado e se restringe a viagem
Contrariando as expectativas criadas pelo próprio governo – antes da viagem à China os “ajustes” no secretariado seriam divulgados no retorno da missão baiana –, o governador Jaques Wagner se recusou a tratar do assunto e afirmou ainda estar com problemas “com o fuso”, trocadilho eufêmico, para justificar a falta de definição sobre mudanças no primeiro escalão.
Em coletiva de imprensa, cujo mote era uma prestação de contas da passagem pela China, o assunto ficou restrito ao tema e o governador, quando questionado sobre questões políticas, preferiu ser reducionista. “Este ano, assim como acontece com a presidente Dilma [Rousseff], é para cuidar da gestão”, assegurou Wagner.
Mesmo evitando falar sobre eventuais alterações no secretariado ou sobre a sucessão dele – Wagner disse estar “muito cedo para tratar algo que vai ser discutido no quarto trimestre deste ano ou no primeiro trimestre do ano que vem” –, o governador não foi evasivo ao ratificar um posicionamento sobre 2014.
“O fato de pessoas se colocarem como nomes para a sucessão é normal. Não entendo como as pessoas não aprendem que é cedo para firmar candidaturas. Posso listar um grupo de ilustres desconhecidos que foram eleitos pouco tempo depois de serem apresentados como candidatos. Eu jamais direi que existe exclusividade do PT, mas vamos discutir o processo com os partidos da base”, ponderou.
Na bagagem da China, Wagner e os companheiros de viagem, os secretários estaduais do Planejamento, José Sérgio Gabrielli, e da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, e o coordenador do Grupo Executivo do Setor Automotivo da Bahia, Reub Celestino, trouxeram investimentos “praticamente consolidados” nos setores automotivo e petroquímico, alvos primordiais da missão. “Foi uma viagem muito intensa. A embaixada brasileira classificou a nossa missão como a missão brasileira de maior intensidade na China”, destacou o governador.
Segundo ele, foram feitos contatos mais firmes com a Foton, do ramo produtor de caminhões e vans, e da Bomco, com atividades na produção de produtos para a exploração de petróleo, porém outras empresas das áreas de mineração, produção de placas de energia solar, produção de grãos e fabricação de fibras de vidro e de carbono também foram contatadas e podem vir a investir na Bahia.
“Receberemos grupos de empresários chineses em março e em abril para confirmar o interesse deles em investir na Bahia. Há um movimento na China para as empresas saírem do país, deixarem de serem exportadoras para produzir fora do país, e nós queremos aproveitar esse momento”, completou Wagner.
“Eles [os chineses] são muito cautelosos em tomar decisões. Lá é diferente daqui porque a presença do Estado é muito forte. O problema maior é por conta da diferença de cultura. Quando o poder central de lá toma uma decisão, é só seguir”, relatou o governador, sugerindo que, apesar do entendimento, ainda não é possível garantir todos os investidores visitados na China.
“Nosso objetivo é consolidar o que já vem sendo tratado, a Foton e Bomco, e provocar – no bom sentido, é claro – novos investimentos. Estamos criando uma cultura de confiança para investidores chineses, o que vai beneficiar também governos após o nosso”, destacou Wagner.
Além de reuniões com investidores chineses durante toda a estada no país – com exceção do domingo, quando aconteceu apenas um jantar de negócios –, a missão baiana conversou ainda com bancos e agências de fomento da China que podem vir a se tornar parceiros de investimentos na Bahia. “A nossa viagem serviu para alavancar empresas chineses que querem vir para o Brasil para que elas se instalem na Bahia”, resumiu Wagner.
Governador retorna a temas do cotidiano
Retornando à realidade estadual após uma semana fora do país, o governador Jaques Wagner anunciou ontem uma série de medidas para auxiliar as famílias atingidas pela seca no semiárido baiano. De acordo com Wagner, o governo tem acompanhado de perto a situação dos municípios do interior do estado que sofrem com a seca e, agora, alguns que foram vitimados por fortes chuvas. “Vamos distribuir 40 mil animais entre caprinos e bovinos, 36 mil toneladas de milho, 2,6 milhões de litros de leite e 3 milhões de suco de laranja, além de centenas de milhares de sementes para pequenos produtores”, indicou o governador ao falar sobre a seca.
Outros dois assuntos que preocupam especialmente os moradores do entorno da Região Metropolitana de Salvador, o sistema ferry-boat e a Embasa, também foram alvos de comentários do chefe do Executivo estadual. “Estamos vivendo um momento, eu diria, crítico. A solução definitiva para o ferry-boat será comprar mais dois ferries, mas isso vai demorar um pouco”, admitiu Wagner. Segundo ele, um edital internacional para a aquisição de ferry-boat será lançado em breve, assim como a licitação emergencial para a operação do sistema. “Tive, inclusive, a oportunidade de conversar com um empresário português sobre o assunto durante uma conexão de quatro horas na Europa e estamos trabalhando nisso. Depois da licitação emergencial, vamos abrir a licitação para a concessionária definitiva”, antecipou. Já as dificuldades com o abastecimento de água foram minimizadas por Wagner. “Essa questão da seca é complicada e no Litoral Norte a demanda sempre aumenta no verão”, lamentou o governador.
Wagner criticou ainda o estremecimento nas relações entre os Poderes Judiciário e Legislativo sobre o Fundo de Participação dos Estados (FPE). Segundo o governador, o relator da matéria, senador Walter Pinheiro (PT), tem a previsão de votá-la no dia 18 de fevereiro, porém é possível encontrar uma solução remediada. “O bom senso diz que, enquanto não está valendo a nova regra, a regra anterior deve ficar válida. Na Bahia, por exemplo, o FPE corresponde a 39% da receita. Não pode mudar as regras de distribuição com o orçamento definido”, apontou.
*Publicado originalmente na Tribuna da Bahia de 24 de janeiro de 2013. Reprodução autorizada desde que citada a origem da matéria.