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Dois dias após ser confirmado como prefeito de Salvador pelas urnas, o deputado federal ACM Neto (DEM) retomou o mandato em Brasília ontem, em meio a festa de correligionários e companheiros do Congresso Nacional. O democrata ganhou até bolo com o próprio nome. A vitória dele, na terceira maior cidade brasileira, recoloca o partido no protagonismo do cenário político brasileiro e serve de alento para a sigla, que, segundo especulações antes da eleição, caminhava para a extinção ou para a fusão com outra legenda. Apesar de não ter uma agenda definida na capital federal, ACM Neto deve reforçar a articulação com o PMDB, por meio do vice-presidente da República, Michel Temer, para que a negociações de projeto para Salvador não tenham ritmo desacelerado pelo posicionamento equidistante das forças políticas com o Palácio do Planalto. A expectativa inicial é que o primeiro encontro com Temer aconteça hoje, porém a incompatibilidade de agenda pode adiar a reunião para a próxima semana.

“Sei que vou contar com o apoio de todo o Congresso, de todos os partidos, quando o que estiver em jogo for os interesses de Salvador”, defendeu ACM Neto, que negocia a transição da liderança da oposição na Câmara Federal, função ocupada por ele. “Tive conversas em Salvador e em Brasília sobre a equipe de transição, mas vamos devagarzinho”, sugeriu o democrata à Tribuna.
Neto adiantou, entretanto, que o encontro com o atual prefeito João Henrique acontece amanhã, para estabelecer detalhes do funcionamento da transição entre governos. Já o encontro com o governador Jaques Wagner segue sem previsão. “Ainda estamos definindo”, tangenciou Neto. Nos bastidores aparecem sinais sobre a equipe de transição da prefeitura soteropolitana.

Três nomes surgem como fortes para a coordenação: o ex-governador Paulo Souto, o presidente estadual do Democratas, José Carlos Aleluia, e o vereador eleito Cláudio Tinoco. As apostas sugerem que Souto sai na frente para ocupar um papel importante nesse processo, pela experiência no Executivo estadual e por ter sido um dos coordenadores do plano de governo de ACM Neto, ainda na campanha eleitoral. O prefeito eleito, porém, nega que haja qualquer nome firmado para liderar a transição da administração de João Henrique.

Para o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), a relação com a presidente Dilma deve manter padrões semelhantes aos de estados e prefeituras que atualmente são governados por partidos da oposição. “A governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, por exemplo, não está sofrendo qualquer tipo de discriminação por ser do Democratas. Estamos acreditando que a situação vá se repetir em Salvador”, espera Agripino. Cauteloso, o senador opta por não estimular um acirramento dos ânimos com o Palácio do Planalto. “Caso haja algum tipo de problema – o que eu não acho que vá acontecer –, não vai haver truculência da nossa bancada”, assegura o dirigente, com relação a informações de bastidores que sugerem uma ruptura da tênue relação entre o Executivo federal e a oposição.

“O próprio ACM Neto declarou que vai administrar com o apoio do partido e que não vai existir contento ou disputa com o Palácio do Planalto”, aponta Agripino. “Salvador será a vitrine do modelo de gestão do Democratas. Os serviços básicos estão assegurados para a cidade e vamos negociar o plus, como fazemos também com outros estados e partidos”, promete o dirigente.
“Estão colocando uma lente de aumento nas preocupações, que até agora não existem”, completou Agripino, minimizando ao máximo o desgaste prévio do relacionamento do novo prefeito de Salvador com a presidente Dilma.

* Publicada originalmente na Tribuna da Bahia de 31 de outubro de 2012