Candidatos amenizam o tom em debate
Depois de um acirrado debate na segunda, os candidatos a prefeito de Salvador voltaram a se enfrentar na TV Aratu num tom muito mais brando. Nelson Pelegrino (PT) e ACM Neto (DEM) ficaram apenas alfinetando um ao outro, sem ataques incisivos ou provocações demasiadas. Ao contrário, o embate foi marcado por “desafios”, em que ambos fizeram referências a falas e posicionamentos anteriores à campanha. “Eu desafio o senhor” foi uma fala recorrente.
Pelegrino começou sugerindo o apoio do atual prefeito, João Henrique, ao adversário, citando auxiliares dele ligados a ACM Neto, como Léo Prates e Cláudio Tinoco – eleitos vereadores pelo DEM. O democrata trouxe o apoio do governador Jaques Wagner a João Henrique na campanha de 2008 e a participação dele na filiação do prefeito ao PP, apontando que interlocutores na prefeitura apoiam o petista. “O candidato posa de novo, mas representa o velho. O prefeito foi para a televisão ajudar a sua campanha”, rebateu Pelegrino. Nasceu nesse ponto o primeiro desafio. “Eu desafio que o senhor mostre uma declaração minha pedindo apoio do prefeito. Tenho uma lista de pessoas que trabalham na prefeitura e lhe apóiam”, respondeu o democrata.
A segurança pública veio na sequência, trazida pelo questionamento de Neto ao adversário. Pelegrino criticou a herança do governo do DEM e citou uma lista “que se estende de Salvador a Feira de Santana” de pessoas que integram o governo de JH e participam da campanha de Neto. “Na época que vocês [DEM] governaram a Bahia, a cidade não era essa tranqüilidade”, sugeriu. “Dei a oportunidade do deputado apresentar as propostas e ele só me atacou”, afirmou o democrata. Diferente dos outros debates, não houve resposta à provocação e Pelegrino falou sobre os investimentos em segurança pública do governo da Bahia.
O debate investiu ainda em usuários de redes sociais do programa. ACM Neto assegurou uma administração formada por quadros técnicos, sem um fatiamento do governo. “Salvador já viu esse filme. Geddel, ACM Neto e João Henrique juntos e não quer repetir”, provocou o petista. O desafio então apareceu dele. “Eu o desafio a apresentar um depoimento do vice-presidente Michel Temer e dos ministros do PMDB em seu apoio”, alfinetou. No final da rodada de debates, a pergunta ficou sem resposta.
Até o final, outros desafios marcaram o debate. E as provocações ficaram em torno de “quem é mentiroso” e à atual administração da prefeitura. A secretaria de Educação, conduzida pelo presidente estadual do PTN, João Carlos Bacelar, foi atacada por Pelegrino e Neto optou por não responder, pedindo que o petista procure João Henrique ou o PTN. Diferente do encontro anterior, o debate da TV Aratu não teve a pimenta baiana esperada. Manteve um padrão morno, semelhante aos embates do primeiro turno das eleições 2012.
Novidade
A novidade do último debate da TV Aratu foi a participação das candidatas a vice, Célia Sacramento (PV) e Olívia Santana (PCdoB). Posicionada ao lado do companheiro de chapa, Olívia quis saber da vice do DEM o que levava ela a apoiar ACM Neto, que teria sido contrário ao Prouni e às cotas. Em resposta, a integrante do PV lembrou que a primeira negra a assumir uma universidade foi Ivete Sacramento, na gestão do DEM. “Temos um compromisso muito grande com a população negra de Salvador”, disse Célia. Ao comentar a resposta, Olívia disse que 50 mil jovens de Salvador foram beneficiados com o programa.
Num dos momentos mais quentes do segundo bloco, Célia Sacramento disse que Olívia só havia sido escolhida para vice do PT, devido ela ter sido escolhida por Neto para ser vice da chapa do DEM. “Você só veio para a disputa por conta da minha escolha por ACM Neto”, alfinetou. Em seguida, a verde quis saber o que será feito pela coligação PT/PCdoB para combater a corrupção no município.
Em resposta, Olívia disse que o DEM não era parâmetro de retidão no país. Em sua réplica, Célia disse que Olívia não havia respondido ao seu questionamento e disse que o democrata vai implantar no município a prática de governança corporativa, onde a população vai poder acompanhar o dia a dia da gestão com transparência. Segundo Olívia, o povo da cidade tem memória e não vai permitir o retorno do DEM ao poder.
Ainda no segundo bloco, ACM Neto quis saber do petista qual o projeto dele para a educação. Em resposta, Pelegrino partiu para o ataque e disse que o governo Wagner deu um reajuste aos professores de 54%, enquanto o governo do DEM concedeu apenas 6% quando estava no poder. O petista disse ainda que possui compromisso com os servidores do município e que iria tratar com carinho os professores da rede de ensino.
Pelegrino aproveitou para desafiar o adversário democrata a garantir a presença dos caciques nacionais do PMDB em sua campanha. Em resposta, Neto disse não precisar de “muleta” e que iria governar a cidade com a interlocução do vice-presidente da República, Michel Temer, junto à presidente Dilma Rousseff.
* Máteria de Fernando Duarte e Osvaldo Lyra, publicada originalmente na Tribuna da Bahia de 25 de outubro de 2012