Malassombrado levantou do túmulo
Trabalhar com política às vezes traz surpresas interessantes. Nesta quinta (18/10), no programa Bahia Com Tudo (Tudo FM 102,5, das 13h as 14h), o entrevistado Edvaldo Ribeiro e Silva, vereador eleito de Salvador pelo DEM, levantou alguns aspectos até pouco esquecidos do cenário político. Ilustre desconhecido da grande mídia, Vado Malassombrado é um dos novos edis da Câmara de Salvador a partir de 1º de janeiro. Com gastos de apenas R$ 450 (ele assegura que foi apenas isso), o dono de um minitrio elétrico obteve 4.059 votos e foi o vereador menos votado a ingressar no Legislativo baiano. Só que, além da campanha de baixo custo, Vado se torna um fenômeno por não estar ligado à grupos políticos tradicionais – ou mesmo a políticos tradicionais.
“O voto das pessoas mudou. Elas estão mais conscientes”, avaliou Vado Malassombrado. E sua eleição parece simbólica disso. “Não aceitamos dinheiro. Se as pessoas queriam colaborar, a gente dava o layout e elas imprimiam os santinhos”, lembrou ele. Segundo o novo vereador, foi uma campanha popular, com engajamento da comunidade. Entre as curiosidades, fotos comprovavam que os “pirulitos” da campanha eram com fotocópias em preto e branco, coladas em papelão, levantadas, especialmente, por mulheres da região da Ribeira, seu reduto eleitoral – mais de 75% dos votos dele se concentraram nessa área.
Com uma história de 22 anos dedicados a atividades sociais, o multifunção – Vado preferiu não elencar uma única profissão – garantiu que a trajetória de envolvimento dele com a comunidade não tinha relação com inclinações políticas inicialmente. Candidato em 2008 a vereador, obteve mais votos do que este ano, mas por conta do coeficiente eleitoral não chegou a uma vaga. Migrou para um partido maior, tradicionalmente associado à direita. Porém mantém uma postura: “quando converso, não peço dinheiro; relato os problemas da Ribeira”. E, de acordo com o Malassombrado, não tem a expectativa de alterar o posicionamento. “Sou um vereador da comunidade”.
Asfalto
Na corrida por espaço, durante a campanha eleitoral, Vado brigou com forças econômicas mais fortes que ele. “Asfaltaram até os becos da comunidade”, afirmou. Discreto, preferiu não citar, mas, no mínimo três outros candidatos tentaram entrar no seu espaço de atuação. “Eles diziam para a população: ‘Eu asfalto a sua rua, mas vocês têm que tirar as placas de Vado’. As pessoas vinham me procurar e eu dizia: ‘Vocês estão esperando o quê? Tirem logo as placas’. Eu ia lá, ajudava a tirar. O engraçado é que depois da rua estar asfaltada, eles vinham me pedir as placas de volta. O que os candidatos iam fazer? Tirar o asfalto?” (risos).
Foram 90 dias de campanha no minitrio, que lhe rendeu o apelido. “O nome do carro que é malassombrado”. “Eu não gravei o jingle, cantava no carro, o tempo inteiro”, frisou. Atingido pelo esgotamento físico, Vado Malassombrado passou quatro noites sem dormir direito. Cantando sem parar a música de campanha, parou para fazer um comício no Campo do Lasca, na Massaranduba. Pediu água e, pouco depois, desfaleceu no chão. Ficou 30 minutos desacordado. Levado ao hospital, nada foi diagnosticado. Dormira por 30 minutos, como se estivesse desmaiado. Para não perder o costume, houve apenas um resultado após o acontecimento. “Vado Malassombrado morreu”, diziam os boatos. Vivinho e eleito, Edvaldo Ribeiro e Silva voltou dos mortos para conquistar uma vaga no Legislativo. E seus eleitores viraram mais que eleitores. “Tenho 4.059 assessores”.
Agora é esperar para ver se a simplicidade dele vai resistir à Câmara de Vereadores. A partir de 1º de janeiro, a população ganha um papel diferente: acompanhar Vado Malassombrado para observar se o homem humilde não vai sucumbir aos subterfúgios do poder. É torcer para que não.