Provocações disputam espaço com propostas
Mal soou o gongo do início do duelo do segundo turno em Salvador entre Nelson Pelegrino (PT) e ACM Neto (DEM) e os candidatos passaram a engalfinhar-se na propaganda eleitoral obrigatória. O tom moderado de críticas entre adversários foi dissipado por um embate incisivo que promete ficar ainda mais combativo até o dia 28 de outubro, quando se encerram as inserções e os programas eleitorais. Até lá, muita água deve rolar por baixo da ponte que separa a capital baiana do novo prefeito. “A propaganda tem o mesmo sentido com que os dois candidatos chegaram ao segundo turno, porém mais acirrada”, analisa o cientista político Paulo Fábio Dantas.
Segundo o pesquisador, observam-se nessa etapa da eleição estratégias bem distintas entre os postulantes à sucessão de João Henrique. “A fala do PT se concentra em dois pontos, o alinhamento entre os governos federal, estadual e municipal e a dicotomia entre carlismo e o petismo, que lembra a eleição de 2006.
No DEM, com a vitória no primeiro turno, mesmo que por um placar apertado, ressaltam-se o legado da administração do carlismo e os pontos positivos da tradição carlista”, aponta. Ambos os posicionamentos já estavam presentes no primeiro turno e, com número reduzido de opções, as pinceladas passam a ser cada vez menos discretas. “É normal numa eleição que terminou praticamente empatada que os candidatos lutem para obter a ampla fatia do eleitorado que não votou em nenhum deles no primeiro turno”, cita o cientista político.
No horário eleitoral de ontem, as críticas continuaram presentes, mas foram relegadas a um plano secundário, abrindo espaço para a apresentação de propostas de ambos os candidatos. Como apontado por Dantas, a linha estratégica dos candidatos começa a ficar mais clara, especialmente para o lado de Pelegrino, que reforça a ideia de que o alinhamento com os governos federal e estadual é uma das condições para melhorar a vida da população. Para tanto, o petista usou depoimentos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de comparar as administrações anteriores às do PT. No campo das provocações, Pelegrino voltou a frisar a associação de ACM Neto com o “time de João”, numa referência ao atual prefeito e ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, que figurou entre os depoimentos da propaganda do democrata.
ACM Neto buscou escolher um tema específico para abordar na propaganda eleitoral, citando a segurança pública como um dos problemas de Salvador. Com falas de populares como “a guerra é aqui” ou “me defenda, Neto”, o candidato imputou a responsabilidade das condições da área de segurança ao governo do estado, ligado ao adversário. Mais emocional e propositivo que o programa de estreia, ACM Neto fez referências veladas ao mensalão e explícitas ao aumento da violência, incluindo um clipe da música “Dor de mãe”.
Mesmo com esse arrefecimento momentâneo, Paulo Fábio Dantas lembra que excessos dentro da própria campanha podem se reverter contra o candidato. “Estratégias são facas de dois gumes, pois podem reavivar memórias que podem ter mais de uma interpretação”, explica o cientista político. Outro ponto que pode ser decisivo nessa fase da campanha, segundo ele, será o desempenho dos candidatos nos seis debates que acontecem até o reencontro dos eleitores com a urna, começando amanhã com o debate da Tribuna, em parceria com a Associação Comercial da Bahia. “Vamos ver no debate como se rebate a postura pessoal de cada um deles, longe dos discursos publicitários. Uma coisa é certa: nenhum dos dois candidatos vai dialogar com luva de pelica no segundo turno”, conclui Dantas.
Aliados entram em campo
Cada vez mais próxima da definição, a eleição em Salvador toma contornos de uma batalha épica entre dois setores políticos baianos – e brasileiros – com o embate entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (DEM), agora com direitos a batedores do alto escalão do arco de alianças dos candidatos. O deputado federal Emiliano José (PT-BA) e o presidente estadual do DEM, José Carlos Aleluia, protagonizaram momentos que mostram o engajamento de ambos na defesa dos interesses dos postulantes a prefeito na capital baiana com ataques pouco polidos, se comparados às declarações da primeira etapa da campanha.
Conhecido pelo estilo mais ferino, o parlamentar petista não poupou críticas a ACM Neto, que, segundo ele, é detentor de “uma fortuna impressionante para quem nunca deu um prego numa barra de sabão”. “A família Magalhães edificou boa parte da sua fortuna, da qual, aliás o ACM, o Neto, é beneficiário direto, graça às benesses do Estado brasileiro, conquistadas durante as administrações do ex-senador e ex-ministro Antonio Carlos Magalhães”, afirmou em vídeo de apoio a Pelegrino divulgado em redes sociais. Emiliano José falou ainda sobre a ação movida pelo DEM no Supremo Tribunal Federal contra a política de cotas, “aqueles que se colocam contra as políticas para promoção da igualdade”.
Menos seco, Aleluia conversou na Record Bahia sobre a campanha eleitoral em Salvador e partiu para críticas à administração do governador Jaques Wagner, ligado ao candidato do PT. “O Estado se ausentou. É um governo que não faz a sua tarefa, que deixou os professores do estado em greve por mais de 100 dias. Para vocês terem uma ideia, o governador, em pleno domingo de eleição, sem trânsito, pegou helicóptero para votar”, disparou o dirigente do Democratas, que foi convidado a participar do programa Balanço Geral após uma ação judicial contra a emissora, por supostamente favorecer Pelegrino. “Nossa prioridade é ajudar na segurança, obrigar o estado a investir na saúde e acabar com os engarrafamentos. Não há ordem. O governador se omitiu”, afirmou.
* Publicado originalmente na Tribuna da Bahia de 17 de outubro de 2012