Sentença, julgamento e crime – a inversão do processo judicial
Não vi as imagens que eliminaram do Big Brother Brasil o participante Daniel. Não por fazer parte dessa elite intelectual disponível nas redes sociais que ojeriza o programa. Apenas não me interessei pelo assunto. Até fiquei surpreso ao ver no topo dos Trend Topics Brazil a hashtag #expulsodaniel no final da tarde deste domingo (15). Se BBB não é motivo de comentários, por que seria o assunto mais comentado do twitter?
A maioria dos comentários lidos se referiam ao episódio com uma sentença definida. “Daniel estuprou uma companheira de casa”. “A Globo se omitiu e se omitirá sobre o assunto”. Mais uma vez, repito: não assisti ao vídeo. E não vou assistir. O que me chamou atenção foi a rapidez como, mais uma vez, todos se apressaram em julgar e condenar os envolvidos no episódio. Inclusive a própria Monique foi avaliada por um bando de machistas de plantão: “era piriguete”, disseram eles. O julgamento prévio, tão criticado quando feito pela grande imprensa, virou agora moda nas redes sociais.
O problema desse tipo de situação é a inversão das vias que seriam utilizadas na Justiça. Foi assim com o caso da Escola Base. Foi assim com o caso Isabela Nardoni. Sem comparar situações tão adversas – até porque no primeiro foi provada inocência e no segundo os envolvidos foram considerados culpados -, ambos foram os acusados foram considerados culpados antes mesmo de serem julgados pelas vias adequadas.
“A Globo só se manifestou porque as pessoas se mobilizaram nas redes sociais”. Pode até ter sido. Mas se realmente aconteceu a versão oficial, de que a produção do programa perguntou a Monique e ela disse que as carícias foram consentidas, não houve uma precipitação ao julgar todos os “entes” deste caso – Daniel, Monique e Globo? Se as redes sociais tem todo esse poder transformador, elas podem transformar anjos em demônios e demônios e anjos, assim como a imprensa é acusada de fazer por diversas vezes. Será que os usuários vão se preocupar se estão incorrendo neste erro que tanto é criticado?
Ah, uma outra observação. O caso Daniel x Monique x BBB mostrou que mesmo os intelectuais que ojerizam o programa assistem ao BBB, nem que sejam os vídeos postados nas redes sociais.
Ninguém precisa de processo judicial para formar convencimento sobre o que está diante dos próprios olhos.