Agendamento na imprensa
Durante a semana passada, o noturno Jornal da Globo – JG, transmitido de segunda a sexta, apresentou uma série de reportagens especiais sobre o conflito de gerações, destacando a ação de três agrupamentos etários considerados pelo mercado de trabalho, os baby boomers, nascidos após a 2ª Guerra Mundial, a geração X, que inclui pessoas nascidas entre 1965 e 1980, e os jovens estreantes como força produtiva, recém-formados que não completaram ainda os 30 anos, a chamada geração Y.
A preparação das matérias, como toda série especial, demandou determinado tempo e permitiu que a equipe do JG, liderada por Ricardo Villela como editor-chefe, incluísse desde a sexta-feira anterior (13/11) uma chamada para as reportagens que iriam ao ar a partir de segunda. O assunto, apesar de despertar grande interesse para quem está interessado em ingressar no mercado de trabalho, seria considerada uma matéria de gaveta ou mesmo um fait-diver, por não apresentar-se como um fato ou com determinada temporalidade que exija a apresentação naquela semana específica. O que chamou a atenção sobre esse assunto, entretanto, não se restringiu à Rede Globo através do JG, pois outras emisssoras fizeram referências ao assunto, seja com pequenas reportagens ou com conteúdo produzido para a web (busquei exemplos, porém as ferramentas de busca do www.g1.com.br é superior aos demais sites).
O resultado dessas reportagens trouxe à discussão o conflito de gerações no mercado de trabalho, em diversas escalas e grupos sociais. Presenciei, em mais de um círculo, o assunto, debatendo principalmente os limites entre uma geração e outra, que foram apresentados extremamente delimitados e que, na verdade, são variáveis de acordo com fatores como pré-disposições a adaptar-se a novas tecnologias, momento de contato com novas ferramentas disponíveis, entre outras. Aconteceu o que, dentro do jornalismo, chama-se agendamento e é estudado dentro das teorias do jornalismo como agenda setting:
“A hipótese do agenda setting não defende que a imprensa pretende persuadir. A influência da mídia nas conversas dos cidadãos advém da dinâmica organizacional das empresas de comunicação, com sua cultura própria e critérios de noticiabilidade (…). Nas palavras de Shaw [Maxwell McCombs and Donald Shaw], citado por Wolf [Mauro Wolf], “as pessoas têm tendência para incluir ou excluir de seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo”. É disso que trata o agendamento”. PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. Contexto: São Paulo, 2006.
Como o assunto do conflito de gerações esteve presente em mais de um grupo de comunicação, fica claro que houve algum tipo de agendamento ou de fonte similar para que houvesse a produção das reportagens. Muito provavelmente editores ou repórteres leram uma pesquisa sobre o assunto ou assistiram alguma coisa na internet. Via Twitter, a professora Malu Fontes encaminhou o link do post no blog BraimStorm #9 em que o Carlos Merigo apresenta o seguinte vídeo do BOX1824:
O vídeo foi postado com, pelo menos, uma semana de antecedência à série de reportagens, o que nos leva à conclusão de que houve um agendamento da imprensa a partir desse vídeo – que possui licença creative commons e pode ser reproduzido sem restrições. É complicado admitir que a imprensa consegue agendar os assuntos a serem pauta das conversas cotidianas. No jornalismo mais formal, com assuntos ligados à política e à economia – e até mesmo no jornalismo de denúncia – é factível que a sociedade seja agendada pelos jornais. No Brasil, o caso mais clássico é do Jornal Nacional, que pauta parte da imprensa brasileira e até mesmo as discussões no Congresso Nacional – um assunto para outro post são os media training, cursos direcionados também a parlamentares que desejam adquirir um espaço nos mídia. Ou seja, mesmo que parece improvável, a conversa sem pretensão com os amigos pode ter vindo a partir da imprensa.