Movimento Passe Livre ocupa Câmara de Salvador por prazo indeterminado

Na surdina, integrantes do Movimento Passe Livre Salvador (MPLS) ocuparam o Plenário Cosme de Farias da Câmara de Vereadores na tarde de ontem em um “ato político” na definição dos próprios manifestantes. Tímido, “com cerca de 15 pessoas”, os participantes do movimento se acorrentaram ao gradil que separa os vereadores do público e garantiram: “só sairemos daqui quando as nossas reivindicações forem atendidas”. Debaixo do braço, uma carta explicando a ocupação e elencando os principais pontos que, de acordo com o movimento, merecem destaque na negociação com o Executivo.

Assim como em outras manifestações, os participantes da ocupação se classificam como “sem partido e formado, basicamente, por estudantes”. Sem liderança, não há a escolha de porta-vozes ou de quaisquer pessoas para falar com a imprensa. Todos se auto-proclamam “integrantes do movimento” e rechaçam a escolha de um líder. “O movimento é horizontal e não temos lideranças nem coordenadores”, garantiu um dos ocupantes da Câmara de Salvador – os nomes serão omitidos para evitar a identificação como responsáveis. Entre as reivindicações, “a redução imediata da tarifa para R$ 2,50 por causa da redução dos impostos federais” e outras medidas consideradas conseqüentes desta. “A ocupação ficará na Câmara o quanto for necessário. Trouxemos uma base de suprimentos mínima e só sairemos daqui quando os pontos de reivindicação forem atendidos”, afirmou um dos moradores transitórios do legislativo.

O parco número de integrantes do movimento a chegar ao plenário e também à frente da Câmara foi justificado como uma estratégia da mobilização. “A ocupação tem que ser feita por um grupo pequeno, para não chamar a atenção das autoridades. É uma forma de demonstrar o inconformismo de como o Poder Público trata com descaso as reivindicações da população e do povo”, sinalizou um dos mais articulados. Segundo ele, a ideia da ocupação, assim como aconteceu em outros estados, é “criar um fato político para chamar a atenção da sociedade”.

De acordo com outro participante da ocupação, a iniciativa surgiu a partir da definição “do real inimigo comum” de todos os integrantes, o valor da tarifa do transporte público urbano. “Não queremos penalizar o prefeito ou quem quer que seja, mas queremos abrir o diálogo. Se ele abrir, as outras instâncias de governo também vão abrir”, bradou um manifestante. Hoje, são esperadas mobilizações na região do Centro Administrativo da Bahia (CAB), com intervenções nas vias e também de cunho artístico-cultural.

 

Presidente acata manifestação

 

Ainda atônito com o futuro da ocupação da Câmara – até o fechamento dessa edição os manifestantes mantinham a intenção de permanecer no legislativo -, o presidente da Casa, Paulo Câmara (PSDB), afirmou que não existe a possibilidade de uma saída das pessoas a contragosto do plenário. “Ninguém vai ser retirado à força daqui”, assegurou o tucano. Ele, no entanto, reclamou da falta de orientação do movimento, que imputa responsabilidades ao legislativo que não cabem ao poder.

“Nós não podemos chegar e dizer: ‘a partir de amanhã, a tarifa vai ser zero’. Isso é competência do Executivo. Em nenhum momento a Câmara fechou as portas, prometemos formalizar as reivindicações e encaminhamos o resultado da audiência pública para o prefeito ACM Neto e o governador Jaques Wagner”, relatou Câmara. Segundo ele, como presidente da Casa, é necessário garantir o espaço para futuras negociações, porém, a ocupação pode limitar o andamento delas. “Vou tentar exaurir todas as possibilidades. Eles vão dormir no plenário?”, questionou o presidente, citando a dificuldade em manter o mínimo de infraestrutura para os manifestantes.

Câmara classificou a ausência de negociação como “falta de sensibilidade”, mas reiterou que os manifestantes serão bem recebidos no legislativo. “Agora, eu acho mais prudente negociar para discutir em outros momentos. Amanhã, por exemplo”, comentou o dirigente do legislativo. A perspectiva, contudo, era de permanência dos manifestantes no plenário por tempo indeterminado.

*Publicada originalmente na Tribuna da Bahia de 23 de julho de 2013

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