Maioria dos baianos está convencida de que Lula sabia mesmo sobre o mensalão
O final da Ação Penal 470, mais conhecida como mensalão, repercutiu positivamente para 60,7% da população soteropolitana de acordo com pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Planter – Observatório do Comportamento & Tendências. Independente do resultado, a apreciação da matéria pelo Supremo Tribunal Federal mostrou um cenário em que nomes conhecidos da política foram julgados na maior corte do país traz confiança à população quanto ao tratamento da corrupção.
A enquete, realizada entre os dias 17 e 19 de dezembro, situa ainda que 22,3% dos baianos se colocou indiferente ao processo, enquanto apenas 11% tem dúvida, 4% não opinou, 1% não tem opinião formada sobre o assunto e 1% avaliou como negativo. O levantamento apontou ainda que 57,7% dos entrevistados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento do esquema de compra de votos e, para 49% do público consultado, a imagem do PT ficou manchada após o escândalo.
Para a socióloga e coordenadora da pesquisa, Maria Helena Rocha, o resultado é de grandeza relevante, considerando a percepção, expectativas e sentimento da população eleitoreira de Salvador. “Afinal, trata-se de um acontecimento que toma espaço nos noticiários, nas conversas em praticamente todos os locais do país”, avaliou, complementando que a análise demonstrou que a imagem que a população tem do STF é de confiança.
Sobre a indiferença da população, conforme Maria Helena Rocha, trata-se de um indicativo do descrédito e da desconfiança de que haja punição dos corruptos. Números do levantamento, inclusive, atestam a colocação da socióloga.
Questionados se os acusados do mensalão irão pagar pelos seus erros, somente 29,7% das pessoas consultadas. 26,7% acha que não, 23% disse que depende e que no Brasil tudo pode acontecer, 11,3% tem dúvidas, 8% não tem opinião formada e 1,3% não opinou.
Quando a pergunta foi se acreditam que o julgamento vai acabar com a corrupção no país o resultado foi mais equilibrado. 28% acredita que acabará um pouco, enquanto 27,7% não acreditam, 25% acha que sim, 10,7% tem dúvidas, 4,3% não tem opinião formada, 4% pensa que não toda, mas boa parte e 3% não opinou.
No que diz respeito as penas aplicadas pelo Supremo, 41,7% avaliam como adequadas, enquanto 27,3% não sabe, 12,3% acham inadequadas, 11,3% tem dúvidas, 4% não opinou, 3% acham muito adequadas e 3% muito adequadas.
Para Maria Helena Rocha, os resultados mostram que entre avaliar o julgamento do mensalão pelo STF e acreditar que este julgamento vai acabar com a corrupção há uma distância grande. “A corrupção está entranhada em todas as gerações dos brasileiros, sendo necessário transformações radicais de ordem estruturais, funcionais, legais e morais”.
Numa leitura superficial, segundo a socióloga, pode-se dizer que 25% da População Eleitoral de Salvador é crédula no fim da corrupção, porque não é atingida pela corrupção, porque acreditam que os julgados e condenados não serão reincidentes, porque acreditam que vai inibir a prática da corrupção. Os outros 75% da população eleitoral, numa certeza clara, acreditam que a corrupção no Brasil irá continuar.
Ainda assim, 55,7% considera que o julgamento do STF deve se estender ao mensalão de Minas Gerais, que também repercute por todo país, enquanto apenas 1,7% disse que não. Um total de 20,3% não tem opinião formada, 11% tem dúvidas, 6% disse depender e 5,3% não opinou.
Presidente do PT minimiza pesquisa
Mantendo o mesmo discurso de negação do mensalão, o presidente estadual do PT, Jonas Paulo, refutou que o julgamento afetou diretamente a imagem do partido junto à população. “Eu não sei o que é mensalão. Eu conheço o debate sobre financiamento de campanha. Eu relatei o caso de Delúbio (Soares, ex-tesoureiro da legenda) e desconheço o mensalão”, frisou Jonas Paulo. Para ele, o comportamento da população em pesquisas como a divulgada sugere o descrédito geral com a cena política brasileira. “A maioria da população acha que política é controlada por espertos. Mas ela é feita também por homens nobres”, defendeu o petista, sem entrar em detalhes sobre o processo.
Aliado dos governos federal e estadual, o PDT é mais cauteloso ao fazer a análise da ação penal. De acordo com o presidente da sigla na Bahia, Alexandre Brust, o célebre pedetista Leonel Brizola deixou uma lição que deve ser seguida pelo meio político sem parcimônia. “Nenhum político consegue se manter muito tempo em cima ou muito tempo em baixa. Política é como uma gangorra e ainda não dá para definir o que acontecer com o mensalão”, analisou Brust.
Para os oposicionistas Paulo Azi, do DEM, e Lucio Vieira Lima, do PMDB, o julgamento atingiu o PT, porém o peemedebista é menos ácido no comentário. “Foi um momento histórico do país, onde os grandes foram julgados e não os pequenos”, definiu Lucio, sem atacar diretamente o caso – as siglas são aliadas no plano federal. Já o democrata usa exemplos de como o DEM agiu em casos de corrupção, citando o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e o ex-senador Demóstenes Torres, ambos expulsos da sigla. “Nós tivemos coragem de cortar na própria carne e o PT, mesmo com todas as evidências, continua defendendo os envolvidos. Não resta dúvidas que a imagem do PT saiu muito desgastada”, avaliou Azi.
*Publicado originalmente na Tribuna da Bahia de 15 de janeiro de 2013. Com colaboração de Fernanda Chagas