Rumo no 2º turno divide PMDB baiano

Em lados opostos no cenário político estadual, PT e PMDB devem protagonizar num virtual segundo turno na capital baiana, um exemplo das contradições possíveis no cenário político brasileiro: a reaproximação de adversários após muitos embates. E, seguindo a tendência atual de polarização da corrida pela Prefeitura de Salvador entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT), os peemedebistas chegam rachados sob o estigma de qual apoio seria menos danoso a médio e longo prazo para a sigla. Para completar a celeuma, existem indicativos de que o candidato do PMDB, Mário Kertész, poderia marchar para o lado petista da disputa, enquanto as lideranças partidárias tendem a migrar para o oposto, com o DEM – provocando desgastes na própria legenda.

Essa situação é negada com veemência pelo presidente estadual do PMDB, Lúcio Vieira Lima. Segundo ele, o PMDB não trabalha com a hipótese de Kertész não estar na disputa de 28 de outubro como candidato. “Nós vamos buscar o apoio daqueles que tiveram um projeto mais parecido com o de Mário, pois estaremos no segundo turno”, profetiza o dirigente da sigla. Apesar do grau de confiança de Vieira Lima, diante das pesquisas de intenção de voto divulgadas até então, a tendência é que a disputa final – se acontecer – seja entre os projetos do DEM e do PT. O peemedebista, entretanto, prefere não tecer comentários sobre apoios, ainda que o irmão dele, Geddel Vieira Lima, tenha declarado que, caso o candidato do partido não avance à segunda etapa, o PMDB vai analisar os projetos daqueles que continuarem no pleito.

“Na democracia é assim. No primeiro turno, se nós apresentamos um candidato é porque consideramos que nenhum dos outros possui as melhores propostas para a cidade. Agora, se o meu candidato não vai para o segundo turno, temos que ouvir as propostas dos que forem para verificar qual tem mais semelhança com as nossas”, explica. Nos bastidores, porém, comenta-se que a gravação de um vídeo de apoio a Pelegrino pela presidente Dilma Rousseff não foi considerada de bom tom pela cúpula do PMDB baiano. A expectativa inicial era que a chefe do Palácio do Planalto participasse da disputa apenas quando não houvesse dois candidatos da base do governo, o que não acontece em Salvador. A partir dessa situação, uma aproximação dos peemedebistas com o DEM não seria uma surpresa. Ainda assim, Geddel mantém o posicionamento firme: “Só falo de segundo turno no dia 07 de outubro, após a apuração”.

Tentando contrabalancear os comentários de que a cúpula do PMDB tenderia a apoiar o DEM, o próprio governador Jaques Wagner tentou reconstruir os laços com a sigla do vice-presidente da República, Michel Temer. A ação, porém, foi interpretada como inapropriada por Geddel. “Eu acho a posição do governador deselegante com o candidato do PMDB e com o eleitorado. Ainda estamos a duas semanas da eleição. Ele não seguiu o ‘ritual da política’”, preconizou. Mesmo sem falar objetivamente, a relação entre PMDB e PT acabou ficando mais azeda do que próxima.

Citado como um dos possíveis apoios captados por Pelegrino no segundo turno, o candidato do PMDB nega alguma definição sobre o assunto e prefere tangenciar. “Estarei no segundo turno e penso apenas em quem vai me apoiar”, assegura Kertész. Sobre a eventual aproximação com o candidato do PT, o peemedebista sugeriu que a única declaração sobre o assunto refere-se ao relacionamento pessoal entre eles. “Tenho uma relação de amizade, e afinidade pessoal com Pelegrino, e nunca escondi isso. Com Neto, não tenho relação nenhuma. Mas isso é relação pessoal”. De qualquer sorte, para os bastidores, essa fala é suficiente para aferir maior proximidade com os petistas – caminho inverso ao desenhado pela cúpula do PMDB.

* Publicado originalmente na Tribuna da Bahia de 21 de setembro de 2102

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