Profissão doido repórter
“Senhor, qual o veículo que você trabalha?”
“Correio da Bahia, senhor.”
“Posso ver seu crachá?”
“Não, senhor. Já falei que era do Correio”.
Minutos depois, o senhor vira senhora.
“Senhor, para qual jornal o senhor trabalha?”
“Tribuna da Bahia, senhora.”
“Você tinha dito Correio para o meu colega.”
“Trabalho na Tribuna, senhora.”
“Posso ver seu crachá?”
O diálogo é aproximado, mas segue a exata ordem em que os fatos aconteceram. Depois da conversa amistosa, o senhor Eduardo Alves levantou e pediu que a imprensa começasse a filmar. Queria protestar contra o comentário de Jérôme Valcke de que o Brasil pedia demais. Trazia uma faixa com os dizeres: “Senhor Jérôme Valcke, manda quem pode obedece quem tem juízo. Somos pentacampeões. Pedimos o que merecemos”. Eduardo Alves parecia ser conhecido de alguns repórteres. Costuma importunar passagens ao vivo. Dessa vez, a intervenção da assessoria do governador impediu que protestasse na presença de Valcke, Ronaldo, Aldo Rebelo e Jaques Wagner. Foi quase em vão.
Entre os verdadeiros repórteres – Eduardo Alves ainda fez piada com a obrigatoriedade do diploma -, os comentários variaram entre “tenho que ligar pra redação” e “não podemos dar ibope a esse tipo de louco”. Muita gente fez os dois. Ligou pra redação e fingiu não dar importância. Depois, houve o destaque que Alves queria. Ele conseguiu holofote. Conseguiu seus segundos de fama. Critério de noticiabilidade: louco em êxtase.
A coletiva era restrita à imprensa. Veículos estaduais e nacionais estavam ali para falar sobre as obras da Arena Fonte Nova. Como Eduardo Alves conseguiu furar o bloqueio, não ficou muito claro. Sua crítica foi, no mínimo, deslocada. Mas obteve destaque entre os repórteres – inclusive o Foca. Como julgar o que deve e o que não deve ser notícia?