Universidade pública?
Há cerca de uma semana venho perguntando a meu pai quando a Universidade do Estado da Bahia – Uneb – entraria em greve. (Ele é estudante de Direito no Campus XV – Valença – BA). Tenho acompanhado via twitter e alguns sites de notícia da Bahia que a Uesc (Santa Cruz – Ilhéus / Itabuna -, a Uesb (Sudoeste – Vitória da Conquista como pólo) e a Uefs (Feira de Santana) já estavam em greve e faltava apenas a Uneb, normalmente a primeira a aderir ao movimento decretar a paralização. Nunca estudei em universidades estaduais no Brasil, mas de alguma forma ou de outra sempre tive notícias das condições pouco condizentes com as propagandas governamentais de investimento na educação. Não me considero uma voz autorizada para falar delas, porém como me formei pela Universidade Federal da Bahia – Ufba -, acredito que tenho conhecimento de causa sobre universidade pública no Brasil. Esse texto é apenas uma tentativa de apresentar o modelo geral de universidade americana, que pode ensinar algumas coisas aos brasileiros.
Uma das garantias fundamentais na constituição da nação americana são as escolas públicas. Aqui, diferente do Brasil, estudar em escola pública é uma tradição para ricos e pobres e poucos são aqueles que optam pelo ensino privado. Se você perguntar a maioria dos americanos se eles acham justo pagar pela educação básica eles irão afirmar que não. Educação gratuita é um direito universal por aqui – coisa que não acontece em outras áreas como saúde. Cheguei a insistir nessa pergunta com um casal e eles afirmaram categoricamente que não deixariam os filhos estudarem numa escola particular, pois a escola pública é uma instituição na sociedade americana. Porém esse ponto de vista se estende apenas até o final do high school, o nosso Ensino Médio. Ir pra faculdade aqui não é de graça. E nem tampouco barato.
Vou citar como exemplo a Universidade de Idaho, que estou estudando. Considerada uma das mais baratas dos Estados Unidos, a Universidade do Idaho Vandals tem uma taxa de US$ 2,701.00 para graduação se sua família reside em Idaho. Se você vem de fora, a taxa são módicos US$ 5,796.00 (veja aqui). Por semestre. E isso cobre apenas as aulas. Você ainda é obrigado a pagar o plano de saúde, US$ 694, e todas as despesas com hospedagem e alimentação. Os valores de hospedagem variam de acordo com o tipo de residência que você escolhe e a alimentação, se você opta pelo plano deles custa em média US$ 6.50 por refeição. Faça as contas e veja, por baixo, como é caro fazer faculdade aqui. E olhe que estou falando de uma das mais baratas dos Estados Unidos. Mas sabe o que é mais engraçado? A Universidade de Idaho é pública e estadual, assim como Uneb, Uesc, Uesb e Uefs. E não é de graça!
Lógico que esse conceito de universidade pública não se adequa ao conceito brasileiro de universidade pública. Cresci defendendo ensino público de qualidade e gratuito para todos os brasileiros, desde a infância até a universidade – e considero que Mestrado e Doutorado também não devem ser cobrados. Porém uma coisa eu realmente admiro da cultura americana. Apesar de pagarem caro pelo ensino, eles tem um sentimento de gratidão e de pertencimento que não se compara com nenhuma sensação que eu tenha presenciado no Brasil com relação à universidades.
Quantos brasileiros saem das universidades públicas, mantidas com os impostos pagos por todos, e nunca mais tem contato com o local de ensino? Quantos brasileiros tentam retribuir, mesmo que minimamente, a qualidade de ensino que essas universidades lhes proporcionou? E de graça? Um dos motivos que sempre busquei contribuir com a Jornal da Facom sem nenhum tipo de retorno financeiro foi por querer retribuir a oportunidade de estudar de graça numa das melhores instituições de ensino de Comunicação Social do País. Mas diversas pessoas me questionavam o porquê. Não que eu seja um bom samaritano ou coisa do tipo, mas descobri que raciocinava um pouco como os americanos nesse sentido.
Todas as universidades americanas possuem um programa de ex-alunos – conhecido acredito que como Alumni em todos os lugares. Elas jamais perdem o contato com seus ex-discípulos pelo simples fato de que, no futuro, eles irão contribuir com a universidade. E não é com trabalho voluntário. É com dinheiro! A Universidade de Washington, na cidade vizinha a Moscow, Pullman, tem um programa específico a depender do tempo de conclusão do curso. Se você tem até cinco anos você é chamado a contribuir menos. Se você tem até dez, o valor será um pouco maior. E assim sucessivamente. Sabe o que é mais interessante? Eles doam o dinheiro como se fosse parte da rotina. Anualmente, todos incluem nos orçamentos os valores destinados à universidade que estudou. Talvez seja por isso que a universidade aqui seja pública, sem fins lucrativos, mas com estruturas melhores do que a maioria das universidades brasileiras, sejam elas privadas ou públicas. Todas as salas possuem equipamento multimídia. O campus inteiro possui internet wireless disponível – fora dos prédios inclusive. O sistema de TI e de acesso às bases de dados são excepcionais. Para comer na universidade você precisa possuir o VandalCard e carrega-lo quando o dinheiro estiver próximo do fim. E você pode carrega-lo se estiver em Moscow, em Salvador ou em Pequim – origem da grande maioria de estudantes estrangeiros. É cômodo, seguro e você não precisa andar com nenhum outro tipo de documento, dinheiro ou cartão. Apenas o VandalCard.
Essa discussão de universidade pública rende horas e horas de debates intermináveis. Mas algumas horas precisamos refletir sobre elas. Contribuímos para a manutenção das universidades públicas gratuitas no Brasil? Além dos impostos, há outro forma de colaboração? Eu faria parte de uma associação Alumni – ou qualquer nome que ela tivesse – da Ufba. E você?
Pow Fernando, concordo contigo, mais sou ainda mais favorável ao modelo Americano, acho que o ensino no Brasil deveria ser de qualidade e gratuito até o ensino médio e as universidades pagas, apenas deixando um ou outro centro de referência como um ITA a exemplo.
Eu vejo a necessidade inicial, pelo menos no nosso país, de uma sociedade em geral com conhecimento básico de qualidade, mais isso tem que ser melhor explicado, talvez em um bate papo posterior, huehuehueh, aqui não vai dar pra explicitar todos os pontos.
Mais como sempre, você levanta temas interessantes com muita coerência.
Parabéns!
Pois eu sou louco pra fundar uma Alumni da escola que estudei.
Não é publica, mas sempre teve uma caracter bem social. Definitivamente não é pra enriquecer os donos que ela existe.
Eu sei que existe Associações de Ex-alunos de alguns cursos em faculdades públicas do Brasil, só não lembro agora de quais. Mas não sei se eles trabalham nos modelos das Alumni americanas no que diz respeito a financiamento mesmo.
Nando, coloca um botão “curtir” aqui no blog ao final de cada post. acho que deve ter isso por padrão em algum lugar do wordpress. no blogspot tem ^^