Brasília entre carrascos e vítimas da tempestade política
A deflagração do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) não é surpresa, ainda mais tendo o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à frente da Câmara Federal. Crítico contumaz do PT, Cunha se viu acuado. Está prestes a ser encurralado no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. Uma das últimas cartas na manga era acatar um dos pedidos de impedimento da petista Dilma – agora alçada a condição de vítima (não que mereça inteiramente a alcunha) pelo carrasco Cunha.
Durante a semana passada, quando o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) foi preso, os bastidores do Congresso Nacional sugeriam que outros mandados seriam emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mais uma razão para que Cunha reaja com veemência para evitar investidas contra o mandato dele e a permanência dele no comando da Câmara. Se não for ele alvo de um mandado semelhante ao de Delcídio, possivelmente o STF poderá atingir um aliado de primeira hora do peemedebista. E, com o barulho do impeachment, o carrasco pode trocar de posto: deixar de ser carrasco para vítima.
O PT vai negar as chamadas pedaladas fiscais, que motivaram o pedido de impeachment acatado por Cunha. Provavelmente, os demais partidos que compõe a base de Dilma no Congresso também devem adotar uma postura semelhante. O impacto que o presidente da Câmara terá com o desgaste do processo de impedimento será fundamental para manter coesão ou terminar o esfacelamento do arco de alianças que a petista detém no Congresso.
De Brasília, o que se ouve é que os petistas e confrades estão “serenos”. Não foram surpreendidos por um pedido acatado por um Cunha acuado e na condição de “chantagista”, como apontam medalhões da legenda. A tempestade política só começou. E os raios vão atingir a todos.