Diversidade como regra

 

Vista da Golden Gate Bridge

Cenário de diversos filmes de Hollywood, San Francisco, na Califórnia, é, sem sombra de dúvidas, uma cidade para se conhecer antes de morrer.  Ladeiras para todos os lados, belos jardins e ruas, a Golden Gate Bridge e Alcatraz rendem lembranças compartilhadas por milhares de pessoas que assistiram alguma aventura romântica ou algum filme de ação que tenha a cidade como pano de fundo. Mas, além dos cenários, o que mais chama atenção em San Francisco não são os lugares e o ambiente em si. As pessoas e as formas com que elas interagem com o ambiente são um espetáculo para qualquer observador. Conhecida também como uma das principais cidades de turismo gay no mundo, o que menos se vê é segregação, seja ela por orientação/ opção sexual, por origem/ nascimento, por cor da pele ou até mesmo por opção de vestuário. San Francisco é uma cidade diversa.

Ruas poliglotas – Andar pelas ruas da cidade é uma viagem por culturas ao mesmo tempo distintas e semelhantes. Chinatown, incrustada numa das principais áreas da cidade, é uma prova de que todos devem conviver harmoniosamente, respeitando as diferenças e aproveitando a oportunidade de “estar junto”. Todas as placas e/ou anúncios nas ruas da maior concentração de chineses da costa oeste americana são escritas em inglês e em chinês. Até mesmo a gigante AT&T, se rende a língua falada por alguns milhares de moradores de San Francisco.

Letreiro de uma das lojas da AT&T em Chinatown

Além do chinês, o japonês é um outro idioma bastante presente, com algumas placas escritas com seus caracteres. Porém, ao caminhar pelo centro comercial, é magnífico ouvir alemão, espanhol, árabe, italiano e português, etc., falado pelas centenas de turistas que cruzam as ruas, passeando entre uma loja de grife e uma loja de departamento, sem o menor tipo de preconceito aparente. “Não temos uma época tranquila em San Francisco. Aqui é alta temporada o ano todo para o turismo”, comentou um dos motoristas de táxi que fazem o percurso entre as ladeiras, para turistas com baixo rendimento físico e sem paciência para tentar usar os bondinhos – as filas são intermináveis.

O passeio custa US$ 5, mas provavelmente você vai querer pagar os mesmos US$ 5 para voltar

Os carros sobre os trilhos são um exemplo de que passado e presente podem viver juntos, aproveitando as benesses vindas de cada um. Carros modernos, como Camaros ou Lotus, dividem espaço não apenas com os famosos bondinhos, mas também com os ônibus elétricos, que cortam o centro da cidade. Segundo outro motorista de táxi, foi uma opção da população manter a estrutura dos cabos que, apesar de não terem um aspecto tão simpático à primeira vista, fazem parte da história do lugar.

Segurança máxima – Por traz do mito hollywoodiano, a penitenciária de Alcatraz não amedronta mais do que os porões do Mercado Modelo de Salvador. As paredes, as celas, a estrutura são assustadoras, é inegável. Porém, ao percorrer os espaços, abertos ao público por módicos US$ 26, não há uma atmosfera de sofrimento como provavelmente deve haver nos presídios brasileiros, ainda que desativados. A beleza d’A Rocha, no meio da baía de San Francisco, supera toda e qualquer sensação ou sentimento negativo que se tenha ao entrar pela primeira vez na penitenciária desativada. “Não gosto de lá. Não vou dizer que é uma experiência incrível, mas é uma experiência para se ter uma vez na vida”, brincou o representante da agência de turismo, responsável pela venda de pacotes que incluem a travessia para a ilha. O trajeto, de barco, é um momento para refletir sobre o que levou algumas centenas de pessoas a viverem no completo isolamento – e chegar a conclusão que o crime não compensa. Albatrozes dão o tom de liberdade que era algo incomum entre 1934 e 1963 quando o lema era: “Se você fez alguma coisa errada você vai para a prisão. Se você fez alguma coisa muito errada – na prisão ou fora dela – você vai para Alcatraz”, enquanto o local era considerada a penitenciária de segurança máxima no território norte-americano.

Albatrozes são os únicos moradores fixos da ilha d'A Rocha atualmente

Diversidade e respeito – Mas San Francisco é também mitificada por movimentos gays ao redor do mundo. A origem desse mito não é apresentada nos tours pela cidade ou até mesmo quando se anda pelas ruas. Talvez seja por ter sido a terra em que líder político Harvey Milk virou ícone da luta pelo direito dos homossexuais e que foi transformado personagem principal do filme Milk – que rendeu o Oscar de melhor ator para Sean Penn. As ruas no final de maio, inclusive, estavam decoradas com bandeiras com as cores do arco-íris, uma homenagem ao aniversário de morte do ex-supervisor da cidade Harvey Milk, assassinado em 1978.

Cúpula do palácio municipal, local em que Milk atuou como líder político

Além das ruas, enfeitadas em homenagem póstuma, nas sacadas dos prédios, e nas janelas dos apartamentos, eram comuns as bandeiras gays, compondo o cenário local. E, diferente das discussões acirradas vividas no Brasil, não há nada de incomum em ser heterossexual ou homossexual. San Francisco, pelos menos nas ruas, nos bares, nos pontos turísticos, não há qualquer tentativa de problematizar a orientação/ opção sexual de ninguém. Eles convivem. Harmoniosamente, assim como chineses, japoneses, brancos e negros. Todos são. Apenas são o que são.

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Comments
2 Responses to “Diversidade como regra”
  1. Társis Valentim disse:

    “Apenas são o que são.”

    Vai explicar isso pra pastora de sua faculdade…

    😉

  2. Goi disse:

    Lê Duarte também é cultura, rs.

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