A Pastorinha do Campus
Um dia após a morte de Osama Bin Laden, a assunto era inevitavelmente tocado em todas as conversas no mundo, especialmente nos EUA, onde parte da população foi às ruas celebrar/ comemorar a morte do inimigo público número um da maior nação capitalista do mundo. E, por mais distante que se esteja de um grande centro urbano, os sentimentos compartilhados por toda uma população são identificáveis nas coisas mais simples. Como diriam alguns políticos e jornalistas, o dia 1º de maio estaria entre os mais felizes da história norte-americana. E a manhã da segunda-feira representava bem nos sorrisos um pouco tímidos dos estudantes e professores da Universidade de Idaho. Os professores que tinham contato com alunos estrangeiros eram, porém, mais cautelosos. Evitam falar sobre, em respeito às dezenas de muçulmanos que, de uma forma ou de outra, acabavam sendo relacionados ao comandante da Al-Qaeda.
No almoço, entretanto, com contato com estudantes norte-americanos, era mais fácil de identificar o estado de felicidade vivenciado por eles. E a mente inquieta de jornalista não os privaria de quaisquer pergunta, mesmo que inconvenientes. “Felizes com a morte de Bin Laden?”, era a clássica. Mas outras também eram permitidas, como “vocês acreditam que o terrorismo vai acabar?”. Foi uma dessas rodas de conversa que A Pastorinha do Campus apresentou sua face.
“Não posso dizer que não fiquei feliz com a morte de Bin Laden, mas não acredito que seja motivo para comemorar”, afirmou um dos norte-americanos.
“Como alguém pode ficar feliz com a morte de outra pessoa? Não fiquei feliz, pois alguém morreu”, afirmou com veemência a pastorinha. Ela corroborava com uma afirmação já ouvida anteriormente, vinda de uma professora.
“Por isso que gosto do Brasil. É um País pacífico, que prefere não se meter na briga alheia”, foi o estopim para uma discussão e uma série de contradições.
“Como assim? Você vê a miséria de um povo e fica de braços cruzados. Nós [os Estados Unidos] somos o País mais poderoso do mundo. Tem poder sim. E esse poder nos permite fazer tudo que quisermos”, bradou a pastorinha.
“Tudo que vocês quiserem, inclusive matar”, foi a gota d’água.
“Sim. Como o presidente [Barack Obama] falou, somos uma potência e temos que agir como tal. Como você reage ao saber que um País está vivendo uma guerra sangrenta, como a Líbia por exemplo, e ninguém faz nada. Temos sim que nos envolver e usar nosso poder para fazer tudo o que for possível pela paz no mundo”, afirmou a loira de olhos azuis, formada há quatro anos na Universidade de Idaho, de aproximadamente 27 anos. “Seu País [o Brasil] não se envolve em guerras porque não tem dinheiro. Não tem poder. Se tivesse dinheiro faria igual”, completou.
“Mas nós contribuímos com a paz mundial, mantendo um ambiente pouco hostil para o surgimento de conflitos internacionais, e contribuindo com ações de paz, como no Haiti, por exemplo”, tentando contra-argumentar.
“Ok. Se nós tivermos que invadir um País para fazer a paz nele, eu concordo plenamente. Essa é a nossa filosofia nos Estados Unidos. Somos critãos”, indicou a pastorinha.
Com receio dos rumos da conversa, o outro norte-americano à mesa mudou o assunto, com um sorriso amarelado.
“Então, como você se tornou a Pastora do Campus?”, perguntou a ela.
“Depois que me formei na UIdaho, passei por um treinamento na igreja de três anos. E desde o ano passado estou aqui, dando conforto religioso aos estudantes do campus”, respondeu.
“Por quanto tempo você pretende fazer isso?”, questionou.
“O resto da minha vida. Minha obrigação é levar os ensinamentos de Cristo para os estudantes. Nasci para isso. Fico o dia inteiro andando pelo campus, tentando convidar as pessoas para participar de nossas celebrações”, explicou a pastorinha.
Dois pontos importantes desses diálogos foram a afirmação dos EUA como uma superpotência que pode fazer tudo o que bem entender e os conceitos cristãos da pastorinha do campus. Matar Bin Laden não é motivo para comemoração. Mas invadir países em busca da paz é perfeitamente permitido. Mesmo que a invasão seja pouco pacífica. Senta lá, Cláudia!
A diferença do Islã e o Cristianismo é uma questão de ótica e poder econômico.
Por qual motivo Osama não teve um julgamento justo?
Onde foi parar a liberdade?
Morte se justifica com a Morte? Ressucitaram Hamurabi?
Assalam-u-Alaikum meu amigo!
Tudo depende da ótica, como você mesmo falou. Para alguns, o julgamento de Bin Laden foi feito previamente e considerado justo: a morte. Tudo depende do ponto de vista. Se você for norte-americano, talvez a liberdade dos outros é sempre um segundo plano em relação à própria liberdade.
Lógico que nem todos são assim.